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Os não-torcedores do Neymar

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Por Wilame Prado

Há cinco anos, após começar a brilhar com a camisa do time profissional do Santos em plenos 17 anos de idade, Neymar Jr é assunto recorrente da mídia. De lá para cá, o jogador conquistou uma legião de fãs e desafetos também. Os rivais da equipe santista são detentores de torcidas populosas. Muitos destes, em especial, alimentam uma raiva doentia pela camisa 10 da Seleção Brasileira, e as causas dos sintomas podem ser facilmente explicadas por duas frentes: pela simulação de faltas que o atleta insiste em desempenhar, mas principalmente pela ousadia e alegria – bordão que ele eternizou em tatuagens e nas chuteiras – que resultam nos mais belos gols, nas mais belas jogadas.

Discussão velha, no entanto. Neymar já nem é o 11 do Peixe, disputou uma temporada com o Barcelona e, desde 2013, é a grande estrela do futebol brasileiro porque, ao contrário de Messi com a Argentina, chamou rapidamente para si a responsabilidade com a camisa amarela, foi peça fundamental na conquista da Copa das Confederações e, até onde pôde ajudar na Copa do Mundo deste ano, desempenhou papel crucial para que exatamente hoje, logo mais às 17 horas, possamos estar grudados à telinha assistindo a uma semifinal de copa, coisa que não víamos desde 2002, quando vimos ainda mais, um Brasil sendo brilhantemente campeão mundial.

Pensando bem, discussão velha, mas nem tanto. Tive a oportunidade de ver alguns jogos recentes do Brasil com pessoas que dizem não gostar do Neymar. Os olhos destas pessoas, quando a bola está nos pés do craque, aumentam de tamanho, assustados. Suam frio, mais do que o próprio adversário, temendo o pior, que, para eles, parece ser mesmo o êxito da jogada, o gol, a mágica, o futebol-arte. Os não-torcedores do Neymar implicam demais com ele, foram, talvez, acometidos por uma espécie de trauma após verem seus times tanto sofrerem com os pés deste menino de só 22 anos. Quando dribla genialmente, eles dizem que Neymar é fominha. Quando faz um gol – e só na copa foram quatro – olham de lado, comemoram com menos entusiasmo e geralmente dão crédito para quem passou a bola para ele concluir com bola na rede.

Chega a ser engraçada essa birra que há com o melhor jogador que despontou no País após a aposentadoria precoce de Ronaldo Fenômeno. São tão birrentos os não-torcedores do Neymar que, com a contusão dele no jogo contra a Colômbia, alguns chegaram a dizer que a sua ausência seria menos sentida que a suspensão do ótimo zagueiro e capitão do Brasil, Thiago Silva. Aí eu pergunto: quem está à altura para substituir Neymar naquele banco de reservas? Dante, ou até mesmo Henrique, podem jogar bem lá atrás, com a força que terão do simplesmente melhor jogador da copa, chamado David Luiz. Mas e lá na frente? Quem é que vai chamar o jogo, conduzir a bola, desestruturar o adversário, cobrar escanteios com maestria, bater faltas perigosas ao gol e – com ou sem exageros, com ou sem simulações – sofrer as faltas e dar chances reais de gol para um time que tem aproveitado bem as bolas paradas nas partidas? Vamos torcer para William ou o próprio Bernard entrar bem no jogo de hoje contra a Alemanha. Podem sim, fazer ótimas partidas, jogar até melhor do que o Neymar e, assim como fez Amarildo em 1962, suprir a ausência de um camisa 10 do Brasil.

Eles, os não-torcedores do Neymar, continuarão buscando justificativas absurdas para provar que ele não é craque, que ele é fominha, que ele deveria ser ator ao lado da namorada, que deveria nem estar usando a 10, que deveria mesmo é estar como está agora, machucado (“Vai fingir tanta falta! Deus castiga”, dizem os mais bizarros não-torcedores) e vendo do lado de fora o espetáculo do futebol que o próprio ajudou a se concretizar.

São raivosos estes não-torcedores, enfim. Um deles, jornalista que escreve para o Portal R7, expressou publicamente em redes sociais a sua torcida (isso em 23 de junho) para que o Neymar se contundisse, quebrando o fêmur, de preferência. Mas para o desespero de todo eles, Neymar tem idade – e futebol – para jogar mais umas três copas do mundo. Isso se a mandinga e a não-torcida deixarem.

*Crônica publicada nesta terça-feira (8) na coluna Crônico, do caderno Cultura (O Diário do Norte do Paraná)

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